quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O racismo camuflado no Brasil

É bem verdade que a lei áurea aboliu a escravidão em 1888. É bem verdade que a constituição prega igualdade entre cores. É bem verdade que brancos e negros têm direitos igualitários. Ou não.


Vivemos em uma sociedade a qual o racismo está em todas as esferas. Não adianta debater com discursos de alteridade ou de benevolência, ele existe sim, e muito mal camuflado.
Prova disso é a maneira que os policiais abordam negros e brancos. Brasília é um claro exemplo, assim como tantos outras regiões brasileiras, que nem precisam ser periferia.
Observo que esse preconceito camuflado se intensifica ainda mais em regiões brasileiras onde ocorreu imigração européia. E permite generalizações; regiões interioranas do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul... Locais com maior número de habitante talvez isso ocorra de maneira  menos intensificada quiçá pela maior circulação de informação possibilitando a maior abertura da mente das pessoas à modernidade.

Mas como condenar os pensamentos dos mais antigos advindos da imgração? como alterar uma maneira hereditária e hierarquizada de educação?
Pois pense se é possível de maneira eficiente alterar o modo que alguém que foi educado por pais viveram numa Europa com o holocausto eminente, com a teoria da evolução de darwin, com o Darwinismo social pregado por Herbert Spencer (associando que negros eram mais próximos evolutivamente dos macacos), observando negros escravizados e comercializados como objetos, tratados com asco e segregando-os. Esses antigos construíram famílias, e essas famílias atribuíram valores e conceitos morais visando o negro de maneira negativa.
e não precisa ir tão longe ou imaginar uma história dos livros para observar isso não.

Meu avô, fruto da imigração italiana criado com as tradições conservadoras,  caso estivesse vivo, estaria com seus oitenta anos. Recordo-me de que, quando pequena, por volta dos 6 anos, minhas primas mais velhas (loiras e dos olhos claros) namoravam com negros. Ele satirizou dizendo que "só faltava eu arrumar um namorado negro". Na época, eu nem senti o impacto do que ele disse nem o desgosto dele. Mas como dizer pra alguém educado à década de 30 de que não era correto pensar daquela maneira? Vovô, pelo que ouço dizer sempre teve a personalidade muito forte, e esse questionamento seria um afronto e sinal de subversão ao respeito que todos deveriam ter com ele. Talvez se eu não tivesse a educação que tive e contato com sentimentos de alteridade permanecesse com o pensamento racista e hierarquizado do vovô, e de tantos vovôs que estão vivos.

Mas a questão racial vai muito além de pontos familiares ou carcerários.  Observe a quantidade ínfima de alunos negros que existem em renomadas escolas particulares. São esses alunos que tem uma maior probabilidade de ingressarem à universidade.
Em contrapartida, o número de alunos negros em escolas públicas (que não possuem infra-estrutura, muitas vezes, para tecnologia, biblioteca, laboratórios, professores motivados e qualificados assim como conta com muita burocracia para recibo de verbas) é alto, sobretudo em regiões com histórico de escravidão. Estes entraves limitam o desenvolvimento da vida escolar, fazendo com que a disputa por uma vaga em ampla concorrência em uma universidade pública seja desleal, impedindo o ingresso dos menos privilegiados.
Considerando o acesso à educação um nivelador social, o ciclo de segregação permanece.

E geram-se questionamentos sobre o regime de cotas. Não é uma questão de preconceito, mas de contingente populacional. Não é dizer que os negros não são capazes, mas é uma maneira de ampliar a possibilidade de missigenação nas universidades segregacionistas.
Os negros marginalizados pós abolição da escravatura também construíram  famílias como os imigrantes, mas historicamente com menos privilégios. Escravos não tinham condições de comprar terras do mesmo modo que os imigrantes, e quando tinham, eram vistos como subversivos.
Aí vêm os sensacionalistas tentar debataer que "eu conheço um negro que...". ok. Também conheço negros excepcionais! Os melhores professores que tive em algumas áreas eram negros. Mas não eram a maioria nem tampouco chegavam a uma porcentagem considerável.

Assim, por questões hierarquizadas e sociais o preconceito permanece. E precisa ser avaliado com mais afabilidade e alteridade pela sociedade. Desejo que todos os questionamentos acerca da segregação e disparidade social sejam feitos embasados em livros de história do Brasil. 

      Namaskar.


Um comentário:

  1. Muito boa suas reflexões, compactuo com o resultado de sua análise, e também me indigno com as diferenças sociais que diuturnamente continuam a segregar os negros, em condições desprivilegiadas, creio que dependerá muito da forma que essas questões são enfrentadas hoje, para que um dia, quem sabe mais um século, para os negros começarem a ter acesso aos mesmo direitos das pessoas brancas.

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