Quem nunca comprou um produto pelo atrativo da imagem da embalagem e se decepcionou com o conteúdo, que permaneça a atirar pedras.
Isso é muito recorrente. Com aqueles chocolates que aparentam um recheio sensacional; com panetones trufados e que mal mal são molhadinhos por dentro; com hambúrguer e tantas coisas que a mídia e a publicidade são capazes de enganar nosso cérebro. Compramos a imagem. Compramos embalagens. Compramos rótulos.
Como se não bastasse o hábito na indústria, nós fazemos isto constantemente com pessoas.
Minha maturidade para parar de rotular as pessoas chegou um pouco tarde, e nem sei se chegou por completo.
Estamos fadados a rotular o tempo todo. Rotulamos que quem senta na primeira carteira da classe são nerds que querem aparecer e pagar de inteligentes. Sequer questionamos se possuem problemas de visão, de atenção ou de audição.
Rotulamos que quem estuda e tira boas notas sem dúvidas é totalmente centrado e não possui vida social. e ainda ousamos dizer: "O que adianta ser tão inteligente e não aproveitar a vida?".
Rotulamos que pessoas tímidas com apreço por rotina não vão à festas, não se embebedam e não trocam o dia pela noite e não beijam muiiiito.
Rotulamos que pessoas negras e/ou vestidas de modo que foge do "padrão" habitual - também rotulado pela sociedade - não irão nos assaltar. Por vezes deixamos de mexer no celular quando estas se aproximam, sem nem considerar que podem ser pessoas melhores do que nós.
Rotulamos a beleza relacionando-a à fotos e curtidas no instagram.
Rotulamos que a mocinha elegante e aparentemente delicada não tem um lado bruto.
Rotulamos as pessoas pela vestimenta e associamos à poder aquisitivo. Há tempo me contaram a uma história de um homem sujo, muito trabalhador que chegou numa concessionária de caminhões. Não obteve atendimento adequado pelos funcionários da loja. Saiu sem ser percebido e retornou de modo semelhante com uma maleta. Com humildade tirou da maleta o valor do dinheiro para adquirir um veículo à vista, quebrando a expectativa imediata que as pessoas ali presente criaram dele.
Rotulamos mendigos e os associamos a drogados e perdidos, sem sequer conhecer seu histórico familiar e os problemas por eles vividos. Uma das minhas conversas mais sensacionais - a qual chorei como criança - foi com um morador de rua, a qual comentei aqui.
O fato é que é possível ser nerd e sentar no fundão, bem como sentar na frente e ser excepcionalmente divertido. É possível ter excelentes notas e mérito e ser a pessoa mais enturmada da galera. É possível usar Oakley, Lacoste, Cobra D'água, Kenner e ser honesto. É possível ser meiga e fofa mas rústica quando se trata de esporte ou campo. É possível considerar as pessoas babadeiras do instagram bem barangas ao vivo e sem filtro. É possível ser tímido e beber, curtir a noite da maneira menos provável e beijar quem der vontade. É possível encontrar alguém de jeans e chinelo com conta no banco maior que o engravatado. É possível encontrar moradores de rua com histórias fenomenais e muitos ensinamentos - considerando ainda o que diz Gnomo Brasil em Chocolate Louco ¨hippie tem cartão de banco".
A sociedade deixou de se enxergar como humanidade desde a Revolução Industrial e a inserção de embalagens.
Créditos à foto: Maria Laura Couto Costa (com rótulo e conteúdo excepcional)
Saiba construir relações pessoais de maneira semelhante a alguém que cuida da alimentação e escolhe produtos na prateleira. Esqueça os rótulos e procure pela trabela nutricional, a qual lhe fornecerá o conteúdo.
Namastê.
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